É tão bom quando você chega pela primeira vez no anatômico, vestido de branco e com o livro na mão. O orgulho da sua família e dos amigos da sua família, que não mais te chamam pelo nome e sim "aquele que estuda medicina". Tão bom assistir as aulas introdutórias e ficar sabendo os nomes dos professores, as datas das provas e uma brechinha, beeemmm brechinha da matéria... com o horário estourando 50 min de aula.
Você começa empolgadíssimo, achando que vai conseguir acompanhar a matéria dada e até arrisca ficar na facul nos horários extras, faz amizade com os funcionários e começa a se apegar com aquele lugar. O pior é quando os queridos educadores começam a falar uma língua que você se esforça para aprender, mesmo olhando pra baixo mexendo com a lapiseira a fim de sair um desenho que nem esse. Mas,vc só pensa...o desenho real é um misto de X com quadrados e borboletas saltitantes (para as meninas) e algum desenho tribal (para os meninos).


Mas, quando uma querida alma resolve falar "Intervalo para aula prática" o seu eu interior quer explodir, beijar aquele professor e pagar um café. Exagerei...  Isso se o Toledo não apontar o dedo pra vc e dizer: "MEU FILHO, QUAL A ÚLTIMA PALAVRA QUE EU DISSE?". Enfim, você está tão empolgado com essas primeiras aulas que começa a ver coisas estranhas naquela sala que é envolta por metais (não sei pq)...e fica olhando para um crânio que pisca pra vc. Isso não é mentira.



Viu só? hehe




E de repente começa a divagar durante um texto nomeado Atestado de Óbito. É torturante vc tentar imaginar a vida daquela pessoa que possuiu aquele fêmur, ou as alegrias que aquele cadáver (nos ajudando a entender a porra da matéria) tenha passado durante sua breve vida. Tão bom seria se aquele filme, que não lembro o nome, fosse verdade. Filme que era mais ou menos assim: implantava-se um chip no cérebro da pessoa a partir do nascimento e desde então grava-se a memória, como em um hd de computador. No final da vida fazia-se um trailer dos momentos que valeram a pena viver.
Pensando bem..... esse negócio de gravar tudo o que a gente faz não é mto bom não. hauhauhaa Mas, a declaração IGNORADO em tudo quanto é espaço no atestado de óbito de um indigente, me deixa triste... não pelo fato de isso ser protocolo ou não, mas pelo fato de uma pessoa ser facilmente apenas um número.

No dia depois, ela me vem e diz coisas que não sabia precisamente o que significava. Ouvir me bastava. Não sabia se podia ir além, bastava meu silêncio para o seu contentamento. Me vi nos seus braços e quando menos percebi estava lá, insólito, depredado, mas ainda calado. Bastava uma palavra, aquela a qual não me referi, queria saber até onde ela iria me levar. No final senti que ela se acalmava, quando finalmente seus lábios pararam de se mover e apenas grunhidos eram ouvidos. No dia depois do que, não me lembro, mas sinto que foi algo mais forte que a própria vontade de saber, nesse momento percebi que era somente o agora que me importava.

De grunhidos passaram a gritos tentei acalma-la novamente, mas não tinha ideia de como. Um café, não, uma chá, acho que também não seja um boa idéia, talvez o abraço seja a melhor saída. Subitamente ataquei-lhe em um abraço fulminante, ofegante, e insano. Agora venho falar de insanidade como se fosse necessário usar essa palavra, a sala escura refletia toda a insanidade possível. Mas sim! Insano e suficiente foi o abraço que durou … não sei exatamente quanto tempo durou, nesse período me perdi no tempo. Senti todas as coisas que dizia Einsten, o tempo dilatou e o espaço estava contraído em nos dois.

Quando nos soltamos daquele abraço surreal o silencio tomou conta de tudo que havia em volta. E por alguns instantes imaginei ter passado tudo, que o mundo estava em nossas mãos. Felicidade desgraçada a minha, começaram o barulho dos carros e as sirenes começaram soar, os giroflex começaram a ofuscar tudo que antes tinha brilho próprio. Não estava tudo acabado, imaginei, me restava "ela". quando virei para perceber sua expressão … foi a única coisa me fugia do campo de visão, ainda podia sentir o calor do seu abraço, além de algumas luzes fortes que eu não podia distinguir a origem. Agora já não conseguia ver nada, somente a maldita luz que se consolidava, ouvia uma voz ao fundo enquanto tentava abrir os olhos -Para resolver essa integral e necessário utilizar integral geométrica de funções inversas …